Criatividade

Posso sempre me distrair através do amor, mas no final, fico ansiando por minha criatividade - Gilda Radner

A frase da Gilda me atingiu em cheio quando a li. Não há nenhum substituto para a nossa criatividade. Nem mesmo a família, trabalho ou amigos. Lógico que esses são fundamentais para uma existência feliz e plena,mas não formam o todo. Conheço pessoas com tudo isso, mas que ainda assim, sentem um vazio... É preciso encontrar em nós uma forma de externalizar nossa criatividade.
Esse aqui é o meu caminho. Estou de gatinhas, preciso confessar.
Passei muito tempo apaixonada pela idéia de escrever e essa ilusão me afagou ao longo dos anos sem nunca passar disso, uma ilusão. Jamais dei o primeiro passo. O "amanhã eu começo" sempre era adiado para depois de amanhã. E assim o tempo passou e, junto com o tempo, a habilidade que acreditei um dia ter enferrujou.
Semana passada eu decidi: "agora vai!". Para meu horror, as frases sairam truncadas e sem nexo. E meus dedos! Ora, meus dedos se recusavam obstinadamente a digitar com destreza. Quanta preguiça.
Estou consciente das minhas limitações. Sinceramente, que não as tem? A diferença é o saber que essas tem prazo de validade e que desparecerão assim que eu me desvencilhar da inércia que me impus ao longo dos anos. Como eu queria que fosse ócio criativo e não uma implosão intelectual.

VERBO SER

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade